terça-feira, 11 de março de 2014

Faça um bom negócio! Não assista "300 - a ascensão do império"

Pior do que filho de político metido a rockeiro
Pronto, vamos seguir o seguinte roteiro: eu vou xingar o filme a vontade, depois eu vou estragar a sua experiência de assisti-lo contando seus primeiros 20 minutos do filme discutindo a questão política daquela porcaria (veja que a primeira parte já está sendo executada) e por último e MAIS IMPORTANTE vou explicar porque só os primeiros 20 minutos serão narrados discutindo misoginia.

O filme é ruim de roteiro, de sequencia de cena, o efeito de sangue dos quadrinhos originais (que só narram os acontecimentos do primeiro filme) não diminui a violência como o diretor gostaria e a chance é muito grande de um sádico estar se masturbando do seu lado dentro da sala de cinema.

Parecia mais esse aqui do que o filme de verdade
O argumento do filme é que a coisa mais bela do mundo é matar líderes políticos orientais (próximos) em nome de uma suposta democracia que ensaia um ideal de liberdade que só gera mais e mais guerra. Se isso te lembra alguma coisa parabéns, você é muito mais esperta (o) do que um espartano. Estamos falando de 300 – a ascensão do império (2014) que é a vingança dos machões de cuequinhas Superman pra cima do Rodrigo Santoro (quem eu não verei nas telonas nunca mais) vestido de odalisca masoquista. Ou seja, haverá um terceiro filme que retratará a épica Guerra do Peloponeso, mas enfim.

História antiga básica: Xerxes mata Leônidas na batalha de Termópilas (filme 1 – que deveria ter sido primeiro e último porque é um bom filme), depois os gregos se unem militarmente e acabam com os persas também chamados de medos (filme 2). No final das contas a influência de Esparta sobre as outras cidades-estados gera um conflito entre Atenas e Esparta, da democracia contra a ditadura, da razão contra a força bruta e então Esparta vai lá e ganha. Quem contou isso pra gente foi Tucídides comandante ateniense que sobreviveu a guerra do Peloponeso e resolveu contar a derrota de seu próprio povo, tirando esse privilégio de seus inimigos.

A Pérsia antiga é referência direta do e ao oriente próximo. Por exemplo, no Irã uma das manifestações mais conhecidas contra o xá (o ditador mulçumano do Irã) foi a realização de um festival arcaico persa que comemorava a primavera. O império persa é referência simbólica-cultural daqueles povos até hoje. Muito infelizmente para mim o sápatra (rei/manda-chuva/zé gostoso) da Pérsia foi representado por Rodrigo Santoro. Rodrigo, você não precisava estar naquela porcaria.

Além da violência exacerbada e elogiada durante as cenas que mostravam espartanos espancando uns aos outros e dizendo como era a coisa mais maravilhosa do mundo morrer por EUspartA. Não consegui ver até a parte que eles efetivamente lutam contra os persas. O herói ateniense vai até Esparta num clima “ei gostosões, viemos chamar vocês pra descer o cacete no Xerxes” e 1º a rainha aparece e pergunta se ele veio se masturbar olhando homens de verdade treinarem e 2º a mina fala pro cara “a gente vai descer porrada no Xerxes sem a ajuda de vocês porque a gente que manja dos paranauê” e é claro que o herói de guerra ateniense sai de lá fazendo comentários “nossa, esses espartanos são mesmo do caralho!”.

Tá bom.
É difícil contar o filme porque o filme fica indo e voltando, indo e voltando, voltando e indo um flashback dentro do outro e te deixa meio perdida (o), mas é claro que tem sangue no passado, presente e futuro. Além de um cena que uma cabeça decepada ganha um beijo na boca da general do Xerxes que o manipula desde sempre e parabéns diretor e ao roteirista conseguiram tirar toda a culpa do vilão e botar numa vilã, a galera adora isso. Por que né gente, a culpa é sempre da mulher mesmo, essa Lilith que usa e manipula os pobres homezzzZZZZZZZ...

A cultura estadunidense é de fato só elogios para as forças armadas. Os espartanos de hoje vão às escolas dos EUA fazendo propaganda de como é bom entrar para o exército depois da High School e a grande carreira que se pode ter pela frente. Pena que eles nunca assistiram o documentário Invisible War (2012) que discute os estupros dentro das forças armadas estadunidenses.

Eu lembro que no Calderão do Luciano Hulk rolou uma entrevista com o Rodrigo Nuncamais Santoro, o diretor de 300 (2006) Zack Snyder e o ator que faz o Leonidas fazendo um merchã do primeiro filme e o diretor disse que fez tudo o mais mágico e artificial possível para ninguém se ofender, achar que era uma questão política ou religiosa. Pois então, dessa vez acredito que o novo diretor, Noam Murro fez o contrário. Em um dos 1000 flashbacks dos primeiros vinte minutos mostra a capital de Xerxes e os primeiros monumentos que aparecem são os símbolos do Iraque e de Bagdá. Mandou benzão em não politizar a parada! Estranho o fato do novo diretor ser israelense, não?

Mas o filme é só porrada e elogio pros Estados Unidos? Não, tem os estupros também. Motivo que me levou a abandonar a sala de cinema. Eu estava assistindo o filme com a minha namorada (que – graças as forças divinas – não é nem foi vítima de nenhuma forma de violência sexual em um mundo em que 1 a cada 5 mulheres será vítima desse tipo de violência no decorrer da vida) que não aguentou ver tanta mulher sendo brutalmente estuprada. A sequência então era assim: cena estupro – diálogos elogiando a violência – porrada comendo solta – flashback – estupro – diálogos – etc.

Mas o mais perverso, ok guerras tem estupros, mas o pior de tudo é que o estupro representado tinha uma aura de fetichismo. Eram coreografias graciosamente interpretadas sobre belas mulheres mostrando os seios. Elas não eram cenas para chocar, eram cenas para se apreciar. Uma falta de respeito com todas as mulheres, com as mulheres que já foram vítimas, com as mulheres que moram em países passíveis daquele tipo de situação, etc. Talvez mostrar o estupro não seja um problema, é visibilizar uma coisa que acontece, mas transformá-lo no break do filme, na respirada no meio de tanta violência, estetizá-la daquele jeito é coisa de espartano. E além disso, há de se tomar muito cuidado ao inserir esse tipo de cena em filmes, pois mulheres que já foram vítimas podem voltar a ter sérios transtornos de estresse pós-traumático com direito a ao aguçamento de terríveis lembranças.

Mal sabe a namorada que saímos na hora em que o estupro seria com uma criança. Portanto, leitora (leitor) se eu não consegui fazer você perder a vontade de assistir o filme é porque as emoções roubaram a cena das palavras. Mas faça um favor à humanidade: deixe os espartanos esquecidos lá no passado que é o lugar deles.


p.s. Tudo indica que os espartanos adoravam a palavra fuck.


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