Era primavera. Havia muitas
árvores em Washington d.c. Isso foi algo que me surpreendeu nos Estados Unidos,
eles têm mais árvores do que nós. Também tem mais asfalto, mas devo confessar
que as árvores chamam mais atenção.
Eu estava aproveitando a cerveja.
Como não podia beber no país, eu me certificava de aproveitar ao máximo toda a
vez que podia tomar cerveja. No caso, era um almoço oferecido pela vizinha
filipina da avó de uma amiga minha, que estava hospedando a mim e mais 6
estudantes para o Spring Break. Destes, só sua neta e mais uma garota eram
estadunidenses (estadunidense sim, porque nada justifica negar nossa
americanidade).
Eram duas mesas, uma composta só
por jovens e outra com a avó da amiga, o marido da vizinha filipina que
oferecia o almoço e uma grande amiga minha brasileira com uma cara de espanto.
Eu já estava um pouco tonto por causa da cerveja que usava para empurrar a
comida que tinha tanto carinho quanto faltava gosto. Naquele dia descobri que
não sou chegado a cozinha filipina.
Quando eu sentei o senhor repetiu
para mim o que tinha acabado de perguntar para minha amiga.
“Você acha justo esses imigrantes
imundos virem aqui e usar o dinheiro dos meus impostos para a educação e a
saúde dos filhos deles?”
Sim, todos os estadunidenses da
casa eram republicanos. Aliás, o terreno em que estávamos pertencia (há muito
tempo atrás) a fazendo do próprio George Washington. Aquele homem tinha servido
alguma força armada dos EUA por muito tempo. Talvez tenha sido assim que
houvesse conhecido sua gentil esposa filipina. A avó de minha amiga só
concordava com tudo o que ele dizia. Eu não sei se eles não consideravam
intercambistas imigrantes também ou era uma indireta de “caiam fora da minha
casa”. Fico com a primeira opção.
O que estava diante de mim era o
argumento mais ignorante e xenófobo contra a imigração de sul-americanos,
centro-americanos e mexicanos nos Estados Unidos. A lembrança de que eu estava
na casa dele sumiu. Também esqueci que o nome da cerveja que estávamos tomando
era tão imigrante como os “mexicanos imundos” de quem ele não gostava. Sorri e
respondi.
“Acho justo sim. Porque não é o
seu dinheiro. Enquanto o senhor servia o exército, seu país ajudava a várias
ditaduras serem implantadas nos países de origem desses “imigrantes”. Essas
ditaduras favoreceram seu país economicamente, e muito! Meu país só se livrou
de uma dívida daquela época há poucos anos atrás. Então, se eles e os pais
deles é que trabalhavam para o lucro do seu país que pagava seu salário, oras,
na verdade você deve muito a eles. E foram os seus pais que usaram os impostos
deles para sua educação e saúde. Então sim, eu acho justo.”
Minha amiga deu um suspiro de
alívio. O senhor que já deve ter
assassinado muitos durante sua vida começou a falar diretamente com nossa
anfitriã sobre como “esses jovens de hoje em dia...” e eu continuei bebendo a
cerveja com nome de imigrante ladrão com um grande sorriso no rosto.

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