Sim, eu assisto Big Brother Brasil, não, isso não afeta em
nada minhas faculdades cognitivas e/ou intelectuais. Acho que a proposta do
programa pode até ser antropologicamente interessante, apesar da experiência de
assisti-lo esteja decaindo muito nos últimos programas (o atual é com certeza o
pior de todos).
Sim, é um programa machista que objetifica os corpos
femininos em troca de uns pontos de audiência. E sim, é um programa racista –
já pararam pra pensar que entra um/a negro/a por edição em um país de pelo
menos metade afrodescendente e mais da metade mestiço. E esse/a personagem
geralmente saí até metade do programa (me corrijam se estiver errada, mas Valter Slim, a cota dessa edição, é o que foi mais longe no jogo, não?). Se tem
algo que podemos chamar de reality no
BBB com certeza é isso: ele reflete tanto os problemas da sociedade em qual
está inserido, quanto os da emissora.

Mas enfim, dadas as devidas ressalvas, vamos ao assunto que
me levou a abrir o computador a meia noite e vinte de domingo para escrever
esse texto: abuso sexual, mas especificamente abuso sexual de mulheres
embriagadas e vulneráveis. Na edição 12 essa
polêmica já havia surgido, o único negro da casa (como sempre), Daniel, foi para debaixo do edredom com Monique. O que
causou comoção foi que aparentemente a moça, depois de muito beber, dormia
enquanto ele fazia sexo com ela totalmente sem consentimento (coisa
imprescindível em uma relação sexual entre dois sujeitos). E o Bial, fazendo Bialzice, abriu a edição do dia seguinte
com um sonoro “O amor é lindo!”. SERÃO MESMO BIAL? A menina provavelmente havia
sido estuprada e você fala de AMOR? O que causou mais e mais problemas para Rede
Globo, que teve de tirar os participantes da casa, envolver a policia, fazer
corpo de delito e etc. Daniel, ao que tudo indica não havia consumado o ato,
mas mesmo assim abusou de Monique, que desacordada não podia reagir a suas
carícias, o que desde 2009 no nosso código
penal já é considerado estupro. Na época, ele foi apenas expulso do programa.
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Trouxe novamente o acontecido à tona para falar da festa que
ocorreu esse sábado dentro da casa. Acho problemático bebida alcoólica liberada
em uma situação de confinamento como a do programa, quando as pessoas estão
extremamente vulneráveis devido as circunstâncias, e acabam descontando suas
emoções em tudo, uns em cigarro, outros em comida e, é claro, em bebida. Sempre
dá merda. Nessa última festa Ângela bebeu demais, além de aturar o tempo
inteiro as investidas insistentes de Marcelo, cara chato, inconveniente,
machista e mimado que parece não aceitar um não como resposta, com quem a moça
havia tido um relacionamento, e já havia colocado um ponto final. Típico stalker, que inconformado com algum
rompimento infernizará a vida da mulher que o deixou. Conhecemos o fim de
várias histórias parecidas que todos os dias tomam os noticiários, e elas quase
nunca acabam bem... para as mulheres.
E a noite passa, Ângela bebe mais, Marcelo insiste mais,
Cássio observa. Eu não gosto do Cássio, não
gosto desde que vi as chamadas da
entrevista dele para produção do programa antes do mesmo começar. Não gosto do
jeito mimado, infantil, desleixado, das brincadeiras desrespeitosas
(principalmente com as mulheres) e do egocentrismo. Mas devo admitir que nessa
noite de sábado ele devesse ser a pessoa mais
sensata do Projac.
O tema da festa era Índia e haviam grandes almofadas jogadas
por todo gramado. Foi em algumas delas que Ângela começou a passar mal e Cássio
tentou ajudá-la, coisa que ela negou, mas ele parece ter continuado por ali, de
algum jeito preocupado em zelar pela menina bêbada. E no desenrolar dos fatos
ele fez uma coisa tão simples, tomou uma atitude tão óbvia, tantas vezes
ignorada, mas que pode salvar muitas mulheres de serem abusadas sexualmente.
Marcelo, o chato, começou a jogar água no rosto da moça, que reclamou, Cássio
tentou fazer com que parasse, mas ele o afasta e continua jogando água nela.
Que continua reclamando e em troca é atingida por Marcelo com várias almofadas
no rosto.
Ela totalmente fora de si diz que ele pode deitar ali pra
dormir com ela... como amigo. Mas parece que essa parte ele não entende e
Cássio atento, logo percebe. Marcelo deita com ela, tenta beijá-la, ela nega,
ele continua dando selinhos, beijos pelo rosto, e Cássio chama outras meninas,
ele está decidido, vai usar a desculpa de que elas darão banho e cuidarão da
bêbada Ângela para tirá-la dali, daquele estado de completa vulnerabilidade.
Marcelo insinua que ele “cuidará dela” ele “dará banho nela” de maneira muito
suspeita. O que faz com que Cássio fique cada vez mais certo de que moça corre
algum perigo e tire ela dali. As cenas que seguem são do barraco entre os dois
caras, que deve ter deixado o diretor do programa bem feliz, pois antes disso
as tramas e o jogo estavam mais parados do que água de poço. Até as mães dos/as
participantes conseguiram ser mais interessantes do que eles/as!
O que me importa nisso tudo é a atitude tomada por Cássio,
que devemos tomar fortemente como exemplo. Como eu disse é tão simples, mas pode
evitar grandes tragédias para vida de várias mulheres, como a da garota, que ano passado em Steubenmville nos EUA foi brutalmente estuprada por vários garotos colegas de escola depois de beber demais e ficar desacordada. E não venham me dizer que por que
Ângela bebeu estava pedindo, que ela devia ter bebido menos pra evitar esse tipo
de situação. Argumentos assim só tiram a culpa do verdadeiro culpado, Marcelo,
e colocam na vítima. Ela, como qualquer outra mulher, tem o direito de beber e
se divertir sem sofrer qualquer tipo de violência.
Ninguém tem o direito de molestar o corpo de ninguém por que
essa pessoa (sempre mulheres) está inconsciente ou fora de si em decorrência de
uma bebedeira. Isso não é sexo, não é brincadeira, é a vida e a integridade
física de outra pessoa. Algo tão óbvio, mas que cega tantos homens, menos
Cássio nesse sábado a noite, que enxergou o óbvio, o que qualquer um devia
enxergar: uma pessoa bêbada não é uma pessoa em condições de decidir, não é uma
pessoa em condições de consentir, não, você não deve “se aproveitar” de alguém
nesse estado, pois isso é monstruoso. E nós todos devemos tomar atitudes como a
de Cássio, ou seremos todos estupradores. #foramarcelo
p.s. Mais informações sobre o caso de Steubenmville aqui.





